MARCOS Introdução
Introdução
Embora o autor deste Evangelho não se identifique, desde os tempos mais remotos da história e dos escritores da Igreja se considera ser João Marcos o seu autor, o qual se teria baseado nas memórias de Pedro. Marcos era um jovem de Jerusalém, sobrinho de Barnabé (Colossenses 4,10). Participou na primeira viagem missionária deste último e de Paulo (Atos 13,1–13) tendo regressado a Jerusalém. Após a separação de Barnabé e de Paulo, juntou-se novamente àquele (Atos 15,37–39). O choque com Paulo foi motivado pelo regresso de Marcos a Jerusalém (Atos 13,13) o que no ponto de vista daquele (Atos 15,37) significaria um abandono da obra. Anos mais tarde, porém, (na primeira metade da década de 60), o parecer de Paulo relativamente a Marcos muda. Em Roma, durante o tempo das prisões do apóstolo de Tarso, tornou-se seu útil colaborador (Colossenses 4,10; Filémon v. 24; 2 Timóteo 2,14).
Ainda jovem conhecera Pedro (Atos 12,2), com o qual desenvolveu uma relação de discipulado tão especial que o apóstolo lhe chama «meu filho na fé» (1 Pedro 5,13). Do que ouviu terá selecionado e compilado alguns eventos, trabalho que resultou neste Evangelho. A respetiva composição situa-se, como se pensa, entre meados da década de 50 e meados da de 60, em Roma.
Este Evangelho tem como destinatários cristãos de origem gentia, habitantes de Roma, pouco ou nada conhecedores dos factos relativos à pessoa de Jesus e à sua vida, nem tão pouco da cultura e línguas do Médio Oriente. O propósito de Marcos teria sido pois o de pôr à disposição destes cristãos um relato abrangente e sintético de alguns factos marcantes da atividade de Jesus. De facto, o exótico de citações aramaicas e respetivas explicações — por exemplo: 3,17 «…Boanerges, isto é, “Filho do Trovão”»; 5,41 «Talihta qúm, que quer dizer: “Levanta-te menina!”»; 10,46 «…Bartimeu, filho de Timeu» — deixam perceber que os destinatários não eram de origem judaica.
Este Evangelho é conciso e eminentemente narrativo. Apresenta Jesus em contínua atividade. Dá maior ênfase aos seus atos do que às suas palavras, pondo em relevo a sua autoridade quer no chamamento de discípulos quer no ensino às multidões, e ainda na cura de doentes e expulsão de espíritos maus (1,14—8,30). A sua centralidade é o ministério do Senhor, não a sua vida. Por isso, omite, ao contrário dos demais evangelistas, quaisquer referências às suas genealogias e vida anterior ao início do ministério, principiando com o batismo por João no rio Jordão (1,9–11).
Jesus é, no início (1,1), apresentado como «Filho de Deus», mais tarde como o «Messias» (8,29). Ainda como «Filho de Deus», é reconhecido e honrado no clímax do seu ministério: a crucificação por um centurião romano (15,39). Entre os romanos era habitual a veneração de heróis humanos e semideuses, filhos de deuses, autores de admiráveis feitos e façanhas sobrenaturais. Ora Jesus aparece como único. É o Filho de Deus, mas é igualmente homem e o seu caráter único revela-se no seu ato supremo, um ato de servidão: o da sua morte na cruz e sequente ressurreição. Além disso, como romanos, não seriam indiferentes às circunstâncias e significado social e moral dessa morte: a crucificação era uma cruel pena romana, destinada aos criminosos mais vis e aos escravos fujões. O reconhecimento perentório da filiação divina de Jesus por um romano, no momento da sua morte, a juntar à crucificação, concorrem para causar impacto no público romano e para o conduzir a um mais forte e radical compromisso de fé com Jesus como o Filho de Deus e o Messias.
O Evangelho segundo Marcos é o mais curto dos quatro Evangelhos e provavelmente o mais antigo. Mateus e Lucas conheciam-no e terão aproveitado muitas das suas informações.
Este Evangelho pode sintetizar-se no seguinte plano:
— Introdução: 1,1.
— Mensagem de João Batista: 1,2–8.
— Batismo e tentação de Jesus: 1,9–13.
— Atividade de Jesus na Galileia: 1,14—9,50.
— Viagem para Jerusalém: 10,1–52.
— Paixão, morte, ressurreição e ascensão de Jesus: 11,1—16,20.
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