MARCOS 14:1-72
MARCOS 14:1-72 Almeida Revista e Corrigida (Portugal) (ARC)
E DALI a dois dias era a páscoa, e a festa dos pães asmos; e os principais dos sacerdotes e os escribas buscavam como o prenderiam com dolo, e o matariam. Mas eles diziam: Não na festa, para que, porventura, se não faça alvoroço entre o povo. E, estando ele em Betânia, assentado à mesa, em casa de Simão, o leproso, veio uma mulher, que trazia um vaso de alabastro com unguento de nardo puro de muito preço, e, quebrando o vaso, lho derramou sobre a cabeça. E alguns houve que em si mesmos se indignaram, e disseram: Para que se fez este desperdício de unguento? Porque podia vender-se por mais de trezentos dinheiros, e dá-lo aos pobres. E bramavam contra ela. Jesus, porém, disse: Deixai-a, para que a molestais? Ela fez-me boa obra. Porque sempre tendes os pobres convosco, e podeis fazer-lhes bem quando quiserdes; mas, a mim, nem sempre me tendes. Esta fez o que podia; antecipou-se a ungir o meu corpo para a sepultura. Em verdade, vos digo que, em todas as partes do mundo onde este evangelho for pregado, também o que ela fez será contado, para sua memória. E Judas Iscariotes, um dos doze, foi ter com os principais dos sacerdotes, para lho entregar. E eles, ouvindo-o, folgaram, e prometeram dar-lhe dinheiro; e buscava como o entregaria em ocasião oportuna. E, no primeiro dia dos pães asmos, quando sacrificavam a páscoa, disseram-lhe os discípulos: Aonde queres que vamos fazer os preparativos para comer a páscoa? E enviou dois dos seus discípulos, e disse-lhes: Ide à cidade, e um homem que leva um cântaro de água vos encontrará; segui-o; E, onde quer que entrar, dizei ao senhor da casa: O Mestre diz: Onde está o aposento em que hei de comer a páscoa com os meus discípulos? E ele vos mostrará um grande cenáculo, mobilado e preparado; preparai-a ali. E, saindo os seus discípulos, foram à cidade, e acharam como lhes tinha dito, e prepararam a páscoa. E, chegada a tarde, foi com os doze. E, quando estavam assentados a comer, disse Jesus: Em verdade vos digo que um de vós, que comigo come, há de trair-me. E eles começaram a entristecer-se e a dizer-lhe, um após outro: Porventura sou eu, Senhor? e outro: Porventura sou eu, Senhor? Mas ele, respondendo, disse-lhes: É um dos doze, que mete comigo a mão no prato. Na verdade, o Filho do homem vai, como dele está escrito, mas ai daquele homem por quem o Filho do homem é traído! bom seria para o tal homem não haver nascido. E, comendo eles, tomou Jesus pão, e, abençoando-o, o partiu e deu-lho, e disse: Tomai, comei, isto é o meu corpo. E, tomando o cálix, e dando graças, deu-lho; e todos beberam dele. E disse-lhes: Isto é o meu sangue, o sangue do Novo Testamento, que por muitos é derramado. Em verdade vos digo que não beberei mais do fruto da vide, até aquele dia em que o beber, novo, no reino de Deus. E, tendo cantado o hino, saíram para o Monte das Oliveiras. E disse-lhes Jesus: Todos vós, esta noite, vos escandalizareis em mim; porque está escrito: Ferirei o pastor, e as ovelhas se dispersarão. Mas, depois que eu houver ressuscitado, irei adiante de vós para a Galileia. E disse-lhe Pedro: Ainda que todos se escandalizem, nunca, porém, eu. E disse-lhe Jesus: Em verdade te digo que, hoje, nesta noite, antes que o galo cante duas vezes, três vezes me negarás. Mas ele disse com mais veemência: Ainda que me seja necessário morrer contigo, de modo nenhum te negarei. E da mesma maneira diziam todos, também. E foram a um lugar chamado Getesêmane, e disse aos seus discípulos: Assentai-vos aqui, enquanto eu oro. E tomou consigo a Pedro, e a Tiago, e a João, e começou a ter pavor, e a angustiar-se. E disse-lhes: A minha alma está profundamente triste, até à morte: ficai aqui, e vigiai. E, tendo ido um pouco mais adiante, prostrou-se em terra; e orou para que, se fosse possível, passasse dele aquela hora. E disse: Aba, Pai, todas as coisas te são possíveis; afasta de mim este cálix; não seja, porém, o que eu quero, mas o que tu queres. E, chegando, achou-os dormindo; e disse a Pedro: Simão, dormes? não podes vigiar uma hora? Vigiai e orai, para que não entreis em tentação; o espírito, na verdade, está pronto, mas a carne é fraca. E foi outra vez e orou, dizendo as mesmas palavras. E, voltando, achou-os outra vez dormindo, porque os seus olhos estavam carregados, e não sabiam que responder-lhe. E voltou terceira vez, e disse-lhes: Dormi agora e descansai. Basta; é chegada a hora. Eis que o Filho do homem vai ser entregue nas mãos dos pecadores. Levantai-vos, vamos; eis que está perto o que me trai. E logo, falando ele ainda, veio Judas, que era um dos doze, da parte dos principais dos sacerdotes, e dos escribas e dos anciãos, e com ele uma grande multidão, com espadas e varapaus. Ora, o que o traía tinha-lhes dado um sinal, dizendo: Aquele que eu beijar, esse é; prendei-o, e levai-o com segurança. E, logo que chegou, aproximou-se dele, e disse-lhe: Rabi, Rabi. E beijou-o. E lançaram-lhe as mãos, e o prenderam. E um dos que ali estavam presentes, puxando da espada, feriu o servo do sumo sacerdote, e cortou-lhe uma orelha. E, respondendo Jesus, disse-lhes: Saístes com espadas e varapaus, a prender-me, como a um salteador? Todos os dias estava convosco, ensinando no templo, e não me prendestes; mas isto é para que as Escrituras se cumpram. Então, deixando-o, todos fugiram. E um certo mancebo o seguia, envolto num lençol sobre o corpo nu. E lançaram-lhe a mão. Mas ele, largando o lençol, fugiu nu. E levaram Jesus ao sumo sacerdote, e ajuntaram-se todos os principais dos sacerdotes, e os anciãos e os escribas. E Pedro o seguiu, de longe, até dentro do pátio do sumo sacerdote, e estava assentado com os servidores, aquentando-se ao lume. E os principais dos sacerdotes, e todo o concílio, buscavam algum testemunho contra Jesus, para o matarem, e não o achavam. Porque muitos testificavam falsamente contra ele, mas os testemunhos não eram conformes. E, levantando-se alguns, testificavam falsamente contra ele, dizendo: Nós ouvimos-lhe dizer: Eu derribarei este templo, construído por mãos de homens, e em três dias edificarei outro, não feito por mãos de homens. E nem assim o seu testemunho era conforme. E, levantando-se o sumo sacerdote no sinédrio, perguntou a Jesus, dizendo: Nada respondes? Que testificam estes contra ti? Mas ele calou-se, e nada respondeu. O sumo sacerdote lhe tornou a perguntar, e disse-lhe: És tu o Cristo, Filho do Deus Bendito? E Jesus disse-lhes: Eu o sou, e vereis o Filho do homem, assentado à direita do poder de Deus, e vindo sobre as nuvens do céu. E o sumo sacerdote, rasgando os seus vestidos, disse: Para que necessitamos de mais testemunhas? Vós ouvistes a blasfémia; que vos parece? E todos o consideraram culpado de morte. E alguns começaram a cuspir nele, e a cobrir-lhe o rosto, e a dar-lhe punhadas, e a dizer-lhe; Profetiza. E os servidores davam-lhe bofetadas. E, estando Pedro embaixo, no átrio, chegou uma das criadas do sumo sacerdote; E, vendo a Pedro, que se estava aquentando, olhou para ele, e disse: Tu, também, estavas com Jesus, o nazareno. Mas ele negou-o, dizendo: Não o conheço, nem sei o que dizes. E saiu fora ao alpendre e o galo cantou. E a criada, vendo-o outra vez, começou a dizer aos que ali estavam: Este é um dos tais. Mas ele o negou outra vez. E pouco depois, os que ali estavam disseram outra vez a Pedro: Verdadeiramente tu és um deles, porque és também galileu. E ele começou a imprecar, e a jurar: Não conheço esse homem de quem falais. E o galo cantou segunda vez. E Pedro lembrou-se da palavra que Jesus lhe tinha dito: Antes que o galo cante duas vezes, três vezes me negarás tu. E, retirando-se dali, chorou.
MARCOS 14:1-72 O Livro (OL)
Dois dias depois começava a festejar-se a Páscoa, celebração durante a qual não se comia pão que levasse fermento. Os principais sacerdotes e os especialistas na Lei não desistiam de procurar ocasião para prender Jesus secretamente e entregá-lo à morte. “Todavia, não o poderemos fazer durante a festa da Páscoa”, diziam, “para que não haja tumulto.” Entretanto, Jesus encontrava-se em Betânia em casa de Simão, o leproso. Durante a ceia, entrou uma mulher com um belo vaso de alabastro com um perfume muito caro feito de nardo puro, a qual, quebrando o selo, lhe derramou o perfume sobre a cabeça. Alguns dos que estavam à mesa ficaram zangados por aquilo a que chamavam um desperdício. “Mais valia tê-lo vendido por 300 moedas de prata e dado o produto aos pobres!”, murmuravam, condenando-a com dureza. Mas Jesus respondeu: “Deixem-na em paz! Porque estão a causar-lhe problemas, se ela me fez uma boa ação? É que os pobres sempre os terão convosco, e quando o desejarem poderão fazer-lhes o bem. Mas a mim nem sempre me terão. Ela fez o que lhe foi possível e perfumou antecipadamente o meu corpo para a sepultura. É realmente como vos digo: onde quer que o evangelho seja pregado no mundo inteiro, este gesto será lembrado e elogiado.” Então Judas Iscariotes, um dos discípulos, foi ter com os principais sacerdotes, para combinar a melhor forma de lhes entregar Jesus. Quando esses sacerdotes souberam o motivo da sua vinda, ficaram alvoroçados e radiantes, e prometeram-lhe uma recompensa. Então começou a preparar o momento e o local certos para trair Jesus. No primeiro dia da celebração dos pães sem fermento, em que se matava o cordeiro da Páscoa, os seus discípulos perguntaram: “Onde queres que te vamos preparar a refeição da Páscoa?” Jesus mandou dois dos discípulos à cidade fazer os preparativos: “No caminho, passarão por um homem transportando um cântaro de água. Sigam-no. E na casa onde entrar digam ao dono: ‘O Mestre pergunta: “Onde fica a sala onde irei comer a refeição da Páscoa com os meus discípulos?” ’ Ele vos levará ao andar de cima, a uma sala grande, toda arranjada e preparada. É ali que devem preparar a nossa ceia.” Os discípulos partiram, entraram na cidade e, tendo encontrado tudo como Jesus tinha dito, prepararam a ceia da Páscoa. Ao anoitecer, Jesus chegou com os doze discípulos. Quando estavam sentados, a comer em volta da mesa, Jesus revelou-lhes: “É realmente como vos digo: um de vocês, um dos que está aqui a comer comigo, vai trair-me!” Eles começaram a ficar tristes e a perguntar-lhe um após outro: “Serei eu?” Ele respondeu: “É um dos doze, que está agora a molhar comigo o pão no prato. O Filho do Homem tem de morrer, tal como as Escrituras disseram há muito. Mas ai do homem que me vai trair! Mais valia nunca ter nascido!” Enquanto comiam, Jesus pegou no pão e, dando graças a Deus por ele, partiu-o e deu-o aos discípulos: “Tomem; este é o meu corpo.” E levantando um cálice de vinho, agradeceu a Deus por ele, distribuiu-o pelos discípulos e todos beberam dele. E disse-lhes: “Isto é o meu sangue que sela a aliança e que é derramado em favor de muitos. É realmente como vos digo: não beberei outra vez vinho senão no dia em que o beber de novo no reino de Deus.” Depois de cantarem um hino, foram até ao monte das Oliveiras. Então Jesus disse-lhes: “Todos irão abandonar-me, porque as Escrituras dizem: ‘Ferirei o pastor e espalhar-se-ão as ovelhas.’ Mas depois de eu ressuscitar, irei para a Galileia e lá me encontrarei convosco.” Pedro disse-lhe: “Façam os outros o que fizerem, nunca te abandonarei!” Mas Jesus disse: “A verdade é que esta mesma noite, antes que o galo cante pela segunda vez, negar-me-ás três vezes!” “Não!”, insistiu Pedro. “Nem que tenha de morrer contigo, nunca te negarei!” E todos garantiram o mesmo. Entretanto, chegaram ao lugar chamado Getsemane, onde disse aos discípulos: “Sentem-se aqui enquanto vou orar.” Levando consigo Pedro, Tiago e João, começou a encher-se de pavor e angústia. E disse-lhes: “A minha alma está cheia de uma tristeza mortal. Fiquem aqui e vigiem.” Indo um pouco mais adiante, prostrou-se na terra e orou para que, se fosse possível, não chegasse a terrível hora que o esperava: “Pai, a ti tudo é possível! Afasta de mim este cálice. Todavia, desejo a tua vontade e não a minha.” Voltando então para junto dos três discípulos, encontrou-os a dormir: “Simão! Adormeceste? Nem mesmo uma hora pudeste velar comigo? Vigiem e orem para não serem vencidos pela tentação, pois embora o espírito seja corajoso o corpo é fraco!” E retirou-se outra vez para orar, repetindo as suas súplicas. Voltou de novo para junto dos discípulos e encontrou-os outra vez a dormir, porque tinham os olhos pesados de sono. E não sabiam o que dizer. Na terceira vez que voltou a ir ter com eles, disse: “Ainda estão a dormir e a descansar? Basta! Chegou a hora! Vou ser entregue nas mãos dos pecadores! Levantem-se, vamos andando! Olhem, já aí vem aquele que me traiu!” Naquele momento, enquanto assim falava, Judas, um dos doze, chegou com muito povo armado de espadas e paus, enviado pelos principais sacerdotes, pelos especialistas na Lei e pelos anciãos. Judas tinha-lhes dito que o entregaria com um sinal: “Saberão quem é quando o cumprimentar com um beijo. Então podem prendê-lo e levá-lo em segurança.” Judas chegou e aproximou-se logo de Jesus, exclamando: “Mestre!” E beijou-o. Então prenderam Jesus, segurando-o bem. Alguém, contudo, puxou de uma espada e, atacando o servo do sumo sacerdote, cortou-lhe a orelha. Jesus perguntou-lhes: “Sou algum assaltante perigoso para que venham assim prender-me armados desta maneira com espadas e paus para me levarem preso? Todos os dias estava convosco a ensinar no templo e não me prenderam. Mas estas coisas estão a acontecer para que se cumpra o que está escrito a meu respeito.” Naquela altura, todos o abandonaram e fugiram. Havia, contudo, um jovem que o seguia à distância, envolvido apenas num lençol. Quando a multidão tentou agarrá-lo, ele escapou, largando o lençol, e fugiu nu. Jesus foi conduzido à residência do sumo sacerdote, onde todos os principais sacerdotes, outros líderes e os especialistas na Lei já se juntavam. Pedro seguia-o de longe e, entrando pelo portão da casa do sumo sacerdote, sentou-se junto a uma fogueira entre os criados para se esquentar. Os principais sacerdotes e todo o conselho dos anciãos reuniram-se ali e em vão tentavam encontrar alguma acusação contra Jesus que bastasse para o condenar à morte. Apresentaram-se voluntariamente muitas falsas testemunhas, mas contradiziam-se umas às outras. Por fim, levantaram-se uns homens que, mentindo, afirmaram: “Ouvimo-lo dizer: ‘Destruirei este templo erguido por mãos humanas e em três dias construirei outro, feito sem ser por mãos humanas.’ ” Mesmo assim, não conseguiam fazer acertar as declarações! Então o sumo sacerdote levantou-se diante do tribunal e perguntou a Jesus: “Recusas responder a esta acusação? Que tens a dizer em tua defesa?” Jesus nada disse, pelo que o sumo sacerdote lhe perguntou: “És o Cristo, o Filho do Deus bendito?” Jesus respondeu: “Sou e hão de ver o Filho do Homem sentado à direita de Deus Todo-Poderoso, voltando nas nuvens do céu.” Então o sumo sacerdote rasgou as suas vestes e disse: “Para que precisamos nós de outras testemunhas? Ouviram a sua blasfémia! Qual é a vossa sentença?” A uma voz, votaram pela sentença de morte. Então alguns começaram a cuspir nele e, vendando-lhe os olhos, davam-lhe socos na cara. “Profetiza-nos, quem foi que te bateu agora?”, zombavam. E até os guardas o agrediam a murro enquanto o levavam para fora. Entretanto, Pedro continuava lá em baixo no pátio. Uma das criadas do sumo sacerdote, reparando nele, enquanto se aquecia na fogueira, olhou-o e exclamou: “Tu estavas com Jesus, o nazareno.” Mas Pedro negou: “Não entendo o que queres dizer.” E saiu para o fundo do pátio. Nesse momento, um galo cantou. A criada reparou de novo nele ali em pé e começou a dizer: “Lá está ele, o discípulo de Jesus!” Pedro tornou a negar. Um pouco depois, outros que se encontravam em volta da fogueira começaram a dizer a Pedro: “Tu és um deles, porque vens da Galileia.” Ele começou a praguejar e a jurar, dizendo: “Eu nem sequer conheço esse homem de que estão a falar.” E imediatamente um galo cantou pela segunda vez. De súbito, Pedro lembrou-se das palavras de Jesus: “Antes que o galo cante duas vezes, três vezes me negarás.” E não aguentando mais começou a chorar.
MARCOS 14:1-72 a BÍBLIA para todos Edição Católica (BPT09DC)
Faltavam dois dias para a Páscoa e para a festa em que se comiam os pães sem fermento. Os chefes dos sacerdotes e os doutores da lei procuravam maneira de prender Jesus, às escondidas do povo, para o matarem. Pois diziam que não convinha prendê-lo durante a festa para não provocarem alvoroço entre o povo. Jesus estava em Betânia, em casa de Simão, a quem chamavam «Leproso». E quando estava à mesa aproximou-se dele uma mulher que levava num frasco de alabastro um perfume, muito caro, feito das melhores plantas de nardo. Ela partiu o frasco e deitou o perfume sobre a cabeça de Jesus. Algumas pessoas que lá estavam mostraram-se indignadas com aquilo e começaram a dizer entre si: «Para quê desperdiçar todo este perfume? Pois podia vender-se por mais de trezentas moedas que se davam aos pobres.» E zangaram-se com a mulher. Mas Jesus corrigiu-os: «Deixem a mulher em paz e não a incomodem. Ela praticou uma bela ação para comigo. Pobres irão ter sempre convosco e poderão fazer-lhes o bem que quiserem. Mas a mim é que não me poderão ter sempre. Ela fez o que pôde, perfumou já o meu corpo para a sepultura. E garanto-vos que em qualquer parte do mundo, onde for pregada a boa nova, será contado o que esta mulher acaba de fazer e assim ela será recordada.» Judas Iscariotes, um dos doze discípulos, foi falar com os chefes dos sacerdotes para lhes entregar Jesus. Eles ficaram muito contentes com isso e prometeram dar-lhe dinheiro. Judas começou então a procurar a melhor altura de o entregar. No primeiro dia da festa dos Pães sem Fermento, dia em que os judeus comemoravam a Páscoa, os discípulos perguntaram a Jesus: «Onde queres que te preparemos a ceia da Páscoa?» Jesus mandou dois deles à cidade e recomendou-lhes: «Entrem na cidade e um certo homem que traz um cântaro de água virá ter convosco. Acompanhem-no e digam ao dono da casa em que ele entrar que o Mestre pergunta: “Onde é que fica a sala para eu comer a ceia da Páscoa com os meus discípulos?” Ele há de mostrar-vos uma grande sala no andar de cima, com tudo o que é preciso. Preparem aí a nossa Páscoa.» Partiram, entraram na cidade, encontraram tudo como Jesus tinha dito e prepararam a ceia da Páscoa. Ao cair da noite, Jesus chegou com os discípulos. Quando estavam sentados à mesa e a comer, ele afirmou: «Digo-vos com toda a verdade que um de vocês, dos que estão aqui a cear comigo, vai atraiçoar-me.» Todos ficaram muito tristes e começaram a perguntar-lhe, um de cada vez: «Não sou eu, pois não?» E Jesus respondeu: «É um dos Doze que molha o pão no prato juntamente comigo. Na verdade, o Filho do Homem vai partir, como está previsto nas Escrituras a respeito dele. Mas ai daquele por quem o Filho do Homem irá ser atraiçoado! Seria melhor para esse homem não ter nascido!» Durante a ceia, Jesus pegou no pão, louvou a Deus, partiu-o, deu-o aos discípulos e disse: «Tomem. Isto é o meu corpo.» Depois pegou no cálice, deu graças a Deus, passou-o aos discípulos e todos beberam dele. E disse-lhes: «Isto é o meu sangue, o sangue da aliança de Deus derramado em favor de muitos. Garanto-vos que não tornarei a beber do fruto da vinha até ao dia em que beber o vinho novo no reino de Deus.» Depois de terem entoado salmos foram para o Monte das Oliveiras. Jesus disse aos discípulos: «Todos me vão abandonar, pois lá diz a Escritura: Ferirei de morte o pastor e as ovelhas ficarão dispersas . Mas depois de ressuscitar irei à vossa frente para a Galileia.» Pedro então exclamou: «Mesmo que todos te abandonem, eu é que não!» Jesus retorquiu: «A verdade é que ainda esta noite, antes do segundo canto do galo, já tu me terás negado três vezes.» Pedro, porém, insistia: «Mesmo que seja preciso morrer contigo, nunca te renegarei.» E todos os outros afirmavam o mesmo. Foram depois para um lugar chamado Getsémani e Jesus disse aos discípulos: «Sentem-se aqui enquanto eu vou orar.» Levou consigo Pedro, Tiago e João. Começou a sentir-se angustiado e cheio de aflição. Depois exclamou: «Sinto uma tristeza de morte. Fiquem aí e mantenham-se vigilantes.» Foi um pouco mais adiante e caindo por terra, pedia muito a Deus que, se fosse possível, o livrasse da hora do sofrimento. Dizia assim: «Ó Pai, tudo te é possível. Afasta de mim este cálice de amargura. No entanto, não se faça a minha vontade, mas sim a tua.» Voltou depois para junto dos discípulos, mas encontrou-os a dormir. Disse então a Pedro: «Simão, então tu adormeceste? Não conseguiste ficar acordado ao menos uma hora? Mantenham-se vigilantes e orem, para não serem vencidos nesta tentação. O espírito quer, mas o corpo é fraco.» Afastou-se outra vez para ir orar e repetia as mesmas palavras. Foi em seguida para junto dos discípulos e encontrou-os novamente a dormir porque tinham os olhos pesados de sono. Eles nem sabiam o que haviam de responder. Quando Jesus voltou para junto deles pela terceira vez, disse-lhes: «Continuam a dormir e a descansar? Basta. Chegou a hora em que o Filho do Homem vai ser entregue nas mãos dos pecadores. Levantem-se, vamos embora. Já aí vem aquele que me atraiçoa.» Ainda Jesus estava a falar quando chegou Judas, um dos doze discípulos. Trazia com ele muita gente armada de espadas e paus. Tinham sido mandados pelos chefes dos sacerdotes, pelos doutores da lei e pelos anciãos. O traidor tinha combinado com eles este sinal: «Aquele que eu cumprimentar com um beijo, é ele. Prendam-no e levem-no bem seguro.» Logo que Judas chegou ao pé de Jesus, disse-lhe: «Mestre!» E deu-lhe um beijo. Os outros deitaram a mão a Jesus e amarraram-no. Um dos que estavam com Jesus puxou da espada, feriu o criado do sumo sacerdote e cortou-lhe uma orelha. Então Jesus disse àquela gente: «Vieram aqui com espadas e paus, para me prenderem, como se fosse um criminoso? Todos os dias estava convosco, a ensinar no templo, e não me prenderam! Isto é para que as Escrituras se cumpram.» Nessa altura todos o abandonaram e fugiram. Mas um certo jovem, apenas com um lençol em cima do corpo, seguia Jesus. Deitaram-lhe a mão, mas ele largou o lençol e fugiu nu. Levaram depois Jesus à casa do sumo sacerdote, onde estavam reunidos os chefes dos sacerdotes, os anciãos e os doutores da lei. Pedro foi seguindo Jesus à distância até que entrou no pátio da casa do sumo sacerdote. Sentou-se ali com os guardas e aquecia-se ao lume. Os chefes dos sacerdotes e todos os outros membros do tribunal procuravam uma prova contra Jesus, para o condenarem à morte, mas não conseguiam. Muitas pessoas foram lá jurar falso contra Jesus, mas as declarações não condiziam. Então alguns levantaram-se para dar um falso testemunho contra ele e disseram: «Nós até o ouvimos dizer: “Deitarei abaixo este templo, feito por mãos humanas, e em três dias construirei outro, não feito pelos homens.”» Mas nem mesmo neste caso as suas declarações concordavam. Então o sumo sacerdote pôs-se de pé, no meio do tribunal, e interrogou Jesus desta forma: «Não respondes nada? Que acusações são estas que fazem contra ti?» Mas Jesus continuava calado e nada respondia. O sumo sacerdote tornou a perguntar-lhe: «És tu o Cristo, o Filho do Deus Bendito?» E Jesus disse: «Sim, sou eu. Hão de ver o Filho do Homem à direita de Deus todo-poderoso e chegar sobre as nuvens do céu.» Ao ouvir isto o sumo sacerdote rasgou a roupa, em sinal de protesto, e disse: «Para que precisamos de mais testemunhas? Ouviram esta blasfémia? Que vos parece?» Todo o tribunal decidiu que Jesus devia ser condenado à morte. Alguns começaram a cuspir-lhe em cima. Tapavam-lhe os olhos, esbofeteavam-no e diziam: «Adivinha, se és profeta» E os guardas davam-lhe bofetadas. Quando Pedro estava lá em baixo no pátio, apareceu uma das criadas do sumo sacerdote. Ela viu-o a aquecer-se, olhou bem para ele e disse: «Tu também estavas com aquele Nazareno, o tal Jesus!» Mas Pedro negou: «Não o conheço, nem percebo o que estás a dizer.» Nisto, saiu do pátio para o alpendre e naquele momento o galo cantou. A criada olhando para ele tornou a dizer aos que estavam ali: «Este é dos deles.» E ele negou outra vez. Daí a pouco, os que ali estavam voltaram a dizer a Pedro: «Não há dúvida que és dos deles, porque também és galileu.» E ele pôs-se a jurar para que Deus o castigasse se não era verdade. E afirmava: «Não conheço esse homem de quem estão a falar.» Nesse instante, o galo cantou pela segunda vez. Pedro lembrou-se das palavras de Jesus: «Antes de o galo cantar duas vezes, três vezes tu me terás negado.» E desatou a chorar.