Sermões de Spurgeon sobre as parábolasExemplo

O bom Samaritano

Nosso texto é a totalidade da história do samaritano, mas, como é muito longo, suponho eu, para o bem de nossa memória, vamos considerar a exortação no versículo 37 como sendo nosso tema principal: “Vai e procede tu de igual modo”.

Há certas pessoas no mundo que não permitirão ao pregador falar sobre nada além daquelas declarações doutrinárias acerca do caminho para salvação, conhecidas como “o evangelho”. Se o pregador insistir sobre alguma virtude ou graça prática, eles logo dirão que não está pregando o evangelho, que o mensageiro se tornou legalista e que foi um mero mestre moral.

Não nos surpreendemos em absoluto com esse criticismo, pois percebemos claramente que o próprio Senhor Jesus Cristo frequentemente estava sob ele. Leia o Sermão do Monte e julgue se certas pessoas estariam contentes em ouvir algo como aquilo lhes sendo pregado no Shabbat. Elas o condenariam como contendo pouco do evangelho e demais sobre as boas obras. Nosso Senhor era um excelente pregador prático. Frequentemente fazia discursos nos quais respondia aos inquiridores, ou dava direção aos que buscavam orientação, ou censurava os ofensores. Dava proeminência a verdades práticas como alguns de nossos ministros não ousariam imitar. Jesus nos fala repetidamente sobre a maneira de como devemos viver com relação ao nosso próximo e estabelece grande ênfase sobre o amor que deveria reluzir por todo o caráter cristão.

A história do bom samaritano, que está diante de nós agora, é um desses casos. Nela, nosso Senhor explica um assunto que surgiu do seguinte questionamento: “Que farei para herdar a vida eterna?”. A pergunta é legítima e a resposta vai direto ao ponto. No entanto, que nunca nos esqueçamos que o que a Lei exige de nós o evangelho produz em nós. A Lei nos diz o que devemos ser, e é objetivo do evangelho nos erguer a tal condição. Portanto, o ensino de nosso Salvador, embora eminentemente prático, é sempre evangélico. Mesmo expondo a Lei, Ele sempre lhe dá uma concepção de evangelho.

Duas finalidades são apresentadas quando Ele estabelece um alto padrão de dever. Em uma delas, Jesus destrói a autojustiça que reivindica haver cumprido a Lei ao fazer o homem perceber a impossibilidade da salvação pelas suas próprias obras. Na outra, ele chama os crentes a se afastarem de todo contentamento meramente relacionado com uma vida decente e com as rotinas da religião exterior e os encoraja a buscarem o grau mais elevado de santidade — na verdade, a buscarem a excelência de caráter que somente a graça pode conceder.