O que eu consumo precisa alimentar-me.

"[...] – Na hora que eu como é até que bom, mas depois não tem mais gosto, é como se eu tivesse comido areia… – disse como quem não conseguia esconder nada do senhor.

– Oh! – disse falsamente espantado – isso é um pouco ruim, mas pelo menos a comida te sacia? – perguntou novamente olhando nos olhos da menina, como quem sabia exatamente qual seria a resposta.

– Ah…também não, parece que não importa o que eu coma, a fome não passa, eu até comi umas frutas que minha mãe corta para mim lá no lado dos maus, mas as daqui são diferentes… – respondeu revirando o bolo, sentindo um amargo na boca.[...]"A Trilogia do Fim - Os Bons e os Maus. Capítulo 8: O Festival do Convite.

As disciplinas espirituais muitas vezes não nos são atrativas. A leitura da Palavra torna-se monótona, os temas de oração parecem ser escassos e o jejum é algo temido e colocado de lado. Às vezes parece que só sabemos ser constantes em vícios, o que nos leva a uma frustração seguida de acusação e falta no tripé da fé. Nos trechos do livro citado acima, Ada Ékthesi, a menina de sete anos, encontra-se no Vale dos Bons na participação obrigatória do Festival do Convite - uma festa feita para que o mundo fosse ofertado de forma clara e incisiva à igreja. Ada nasceu e cresceu no Vale dos Maus, ou seja, na fé, desde nova ela soube que não deveria dar ouvidos aos "bons", que não deveria comer da comida deles, usar a roupa que eles faziam e muito menos esbanjar-se nas regalias de Diévolos, mas, assim que teve uma oportunidade, partiu com o seu amigo e deleitou-se nos prazeres da tão decorada comida do Vale dos Bons. Num determinado momento ela encontra-se com um senhor que lhe pergunta sobre o gosto dessa comida e, para espanto da garota que já se tinha empanturrado, tudo tinha gosto a areia e a fome não passava, por mais que ela comesse as mesmas frutas que costumava comer no Vale dos Maus, nada tinha o mesmo gosto, era como se ela fosse insaciável.

Mesmo antes de conhecermos a Deus nós sempre tivemos fome de alguma coisa, mas, quando fomos tocados pelo Seu amor e experimentamos da vida completa. O que antes nos saciava parece ruim e distante e, uma vez que insistimos em nos alimentarmos do que não provém do Senhor, negamos a única coisa que poder-nos-ia trazer sustância. Às vezes temos o péssimo hábito de querer traçar o nosso próprio caminho e depois voltamos a Deus frustrados sem crer naquilo que um dia foi tão palpável nas nossas vidas. Insistimos em nos empanturrarmos do que nunca nos alimentou.

O mundo nunca vai impulsionar a nossa fé. Não podemos olhar para o que ele oferece com vontade de experimentar, pois Deus é mais do que suficiente, n'Ele não temos falta de nada, não temos justificativa para querer o que o mundo tem. Precisamos ainda de sermos sábios na caminhada cristã e buscar sempre crescer em conhecimento. A vida com Deus não é uma receita que seguiremos por anos, com os mesmos louvores, lendo somente a nossa passagem favorita ou enfrentando sempre os mesmos desafios e pecados. A fé é forjada por uma vida derramada aos pés de Cristo, com um coração que deixou o velho homem para trás e prossegue para o alvo na esperança de um dia alcançar a estatura e plenitude do varão perfeito.