Eu sou a videira verdadeira

Vários pesquisadores e pesquisadoras da Bíblia destacam o uso frequente da videira como símbolo de Israel, contudo, quase sempre pela perspectiva de que esta era infrutífera. Esses textos aparecem nos salmos e em profetas como Jeremias, Isaías e Ezequiel. Em oposição a isso, Jesus afirma que ele é a videira verdadeira, isto é, aquela que produz fruto de verdade! Isso nos chama a atenção para pensar o que são videiras falsas... De fato, na região da Ásia, existem alguns tipos de trepadeira chamadas de falsas vinhas, que possuem folhas semelhantes às da uva, mas que são apenas ornamentais. Ou pior, algumas são venenosas. Havia ainda as parreiras que produziam uvas muito azedas para se comer e por isso são chamadas de uvas bravas (Isaías 5.2).

Todas as vezes em que Jesus adjetiva alguma coisa como verdadeira, ele está falando de identidade. Ele é a videira verdadeira – confiável, autêntica, definitiva. Por isso, quando os ramos estão conectados a ela, só podem produzir frutos bons. Paulo afirma que fomos enxertados em Cristo. O galho enxertado recebe vitalidade do tronco principal (Romanos 11.11-24 – destaque para o verso 16).

Essa participação na natureza santa e frutífera de Jesus fala do nível do nosso relacionamento com ele. Jesus não quer apenas que nós estejamos próximos a ele, mas que compartilhemos de sua natureza e de seu poder que gera vida. A conexão entre os ramos e a videira é total. Os ramos dependem dela para receber todos os nutrientes.

Sobre a videira e o agricultor: A relação entre Jesus e o Pai alimenta a relação entre Jesus e os discípulos. Jesus afirma que Deus cuida dele para que ele possa cuidar dos discípulos. De fato, em João, é acentuada a forma com que Jesus se coloca em submissão a Deus. Ele está sempre falando a respeito do que recebe do pai como conteúdo de sua missão e como missão mesma. Ele reafirma a obediência como prática de vida.

Sobre a videira e os ramos: Jesus estabelece que há uma identidade entre nós e ele quando estamos conectadas. Somos os ramos da videira. Como ele, nossa natureza é produzir frutos. A seiva que alimenta o ministério de Jesus é sua unção pelo Espírito Santo. Esta está presente em nós, especialmente quando em João 20, Jesus afirma que estava enviando o Espírito Santo para nós. A identificação entre Jesus e seus discípulos e discípulas é total! Mas existe a necessidade de nos abrirmos para receber a nutrição, pois há quatro tipos de ramos: 1) nenhum fruto (15.2); 2) fruto (15.2); 3) mais fruto (15.2); 4) muito fruto (15.8).

É interessante estudar as possibilidades de entendermos os v.1-2: “Todo ramo que, estando em mim, não der fruto, ele o corta”. Os estudiosos da língua grega falam que esta tradução não expressa bem os sentidos originais. O verbo traduzido por “cortar” (airo, em grego) também significa “levantar do chão”. Há um entendimento de que o viticultor nunca corta os ramos na época do crescimento, mas pode usar estacas e amarras para levantá-lo e dar-lhe melhores condições de frutificar! Por meio de seu cuidado, Deus quer nos manter em Jesus. Ele se esforça para que possamos produzir frutos. Ele nos levanta em nossos pecados, nos ergue em nossos desafios, nos ampara em nossas dificuldades e nos apruma em nossos equívocos. Ele quer nos manter de pé e em conexão com a videira! Por isso, podemos ser disciplinadas pelo Senhor, pois o sentido da disciplina é sempre a correção. Pode ser apertado o laço que firma o ramo na estaca, mas ele é vital até que o ramo esteja forte para se sustentar por si mesmo!

A seguir, Jesus diz que todo ramo que produz fruto ele limpa (ou poda), para que produza mais fruto ainda. Isso significa o processo da santificação. A limpeza tira folhas mortas e garante que o ramo poderá se fortalecer nas pontas nas quais os cachos de uvas serão gerados. Não desperdiçará energia com folhas pequenas e uvas fracas, mas será direcionado ao fruto mais suculento e saboroso! A limpeza tira o pecado de nossa vida, para que a vitalidade do ramo seja direcionada ao fruto planejado, conforme a natureza frutífera da videira! Deus sempre provê o melhor para nós, precisamos crer nisso!

Hernandes Dias Lopes afirma que o viticultor usa quatro processos para limpar os ramos: 1) remove os brotos mortos e prestes a morrer; 2) garante que o sol chegue aos galhos cheios de frutos; 3) corta a folhagem luxuriante que impede a produção de frutos; 4) corta os brotos desnecessários, por mais que eles pareçam viçosos. Como viticultor, Deus segue o mesmo processo conosco: ele corta as partes da nossa vida que nos roubam a vitalidade e nos impedem de frutificar. O viticultor procura tanto a quantidade quanto a qualidade (LOPES, 2019, p. 1905).

Hernandes chama a atenção para um princípio: Deus nos disciplina quando estamos errados e nos poda quando estamos certos. Precisamos de estacas (disciplinas) quando podemos nos desviar e precisamos de poda (santificação) quando podemos crescer como ramos. Pode ser que a dor da poda venha agora, mas certamente os frutos virão depois.

Muito fruto: O verbo permanecer aparece 11 vezes em 10 versículos. É uma ênfase inegável! O segredo de frutificar é permanecer. Apenas o ramo que está fora da videira é que é lançado fora e seca. O juízo não existe para quem permanece em Jesus, mas para quem se exclui dele. O desafio não é apenas fazer coisas para Jesus, mas permanecer com ele. Por isso Jesus afirma que, sem ele, não podemos fazer nada. O ramo não se sustenta sozinho. Ele precisa da videira! O verbo usado para permanecer não é algo estático, mas indica uma ligação íntima, um compartilhar da natureza, da identidade e do ser da outra pessoa.

Permanecer: Permanecer é vital para produzir frutos! Permanecer é vital para continuar vivo! Permanecer é vital para dar testemunho de discipulado (v.4,5,8). Permanecer é vital para experimentar o amor de Deus (v.9) e para receber as respostas às orações (v.7,8). Permanecer é obedecer (v.10). Permanecer é ter a alegria plena (v.11)

Para refletir

1. Há uma riqueza tão grande neste eu sou! Destaque dois aspectos que mais chamaram sua atenção neste estudo. Como você pode colocar isso em prática na sua fé?

2. Neste momento, você consegue se identificar como um ramo que não dá fruto ainda e precisa de estacas e sustento? Ou você já sente que amadureceu um pouco mais, mesmo precisando da poda em algumas áreas da vida? Que tipo de fruto você sente que está produzindo?

3. Será que existem folhas luxuriantes e brotos em você, que seriam coisas boas e interessantes, mas que talvez tenham de ser retiradas porque podem não ser o principal fruto que Deus quer que você produza?