De Perdidos a RedimidosExemplo

Uma Vida Perdida

Nosso texto narra uma das conversões mais sobrenaturais e significativas da história do cristianismo: a conversão de Saulo. Esse homem foi responsável pela expansão do Evangelho aos não judeus (gentios) e pelo alargamento das fronteiras da obra missionária, levando a Palavra de Deus do Oriente Médio até a Europa (Roma). Além disso, deixou escritas 13 cartas que expõem claramente o Evangelho do nosso Senhor Jesus Cristo, explicando o significado e o alcance da vida, obra, morte e ressurreição de Cristo, consolidando as bases doutrinárias e teológicas da Igreja Primitiva.

Para entender melhor nosso texto-base, precisamos retroceder dois capítulos. Lucas, autor do livro de Atos, prepara lentamente seus leitores para apresentar-lhes esse personagem. A primeira referência aparece em Atos 7.58, em uma cena de violência, sangue e ódio. Trata-se do apedrejamento de Estevão, um diácono da Igreja de Jerusalém, homem cheio de fé e do Espírito Santo, executado por judeus membros do Sinédrio, uma espécie de Corte Suprema dos judeus. A causa do apedrejamento foi o teor de um sermão pregado com o poder do Espírito Santo. O nível de intimidade do pregador com Deus era tal que seu rosto parecia o de um anjo. Após descrever essa cena brutal, Lucas informa aos leitores que as vestes das testemunhas que apedrejaram Estevão foram deixadas aos pés de um jovem chamado Saulo. Essa é a primeira aparição do nome de Saulo no Novo Testamento — justamente no assassinato do primeiro mártir do cristianismo.

Após a cena do apedrejamento, Lucas dá mais uma informação importante sobre nosso personagem: Saulo consentiu com a morte de Estevão (At 8.1a). Em seguida, ficamos sabendo que a morte de Estevão não foi suficiente para saciar a ira de Saulo contra os cristãos. Saulo iniciou uma campanha para exterminar a Igreja ainda no seu nascedouro, assolando-a e entrando nas casas, arrastando homens e mulheres para prendê-los (At 8.3).

Aparentemente, Saulo estava obtendo sucesso em seu intento, pois Lucas informa que, exceto os apóstolos, todos os judeus convertidos foram dispersos pelas regiões da Judeia e Samaria (At 8.1b).Contudo, sem perceber, Saulo estava contribuindo para o cumprimento da ordem de Jesus em Atos 1.8, ou seja, testemunhar em Jerusalém, na Judeia e em Samaria. Lucas registra isso claramente em Atos 8.4: “Entrementes, os que foram dispersos iam por toda parte pregando a palavra”. O resultado dessa pregação dos cristãos perseguidos foi extraordinário. Multidões davam atenção às palavras de Filipe e testemunhavam os sinais milagrosos que ele realizava (At 8.5).O número de batizados crescia rapidamente; homens e mulheres vinham ao Senhor Jesus (At 8.12).

Percebendo que sua campanha não estava tendo o resultado esperado — mas que o número de convertidos aumentava cada vez mais — Saulo decidiu perseguir os cristãos que haviam fugido de Jerusalém, começando pela cidade de Damasco (Atos 9.1–2).
Porém, durante a viagem, Saulo foi surpreendido por uma forte luz e por uma voz que falou diretamente com ele: “Saulo, Saulo, por que me persegues? ”Sem compreender claramente o que estava acontecendo, Saulo perguntou: “Quem és tu, Senhor? ”A resposta recebida abalou completamente suas convicções, pois a voz disse: “Eu sou Jesus, a quem tu persegues” (Atos 9.5).

A luz ao redor de Saulo foi tão intensa que o deixou cego. Aquele que pretendia perseguir e prender cristãos chegou a Damasco sendo conduzido pela mão, conquistado por Cristo. Após três dias de jejum, ele teve uma visão na qual foi informado de que receberia a visita de um homem chamado Ananias, que lhe imporia as mãos para que fosse curado e ficasse cheio do Espírito Santo — o que aconteceu exatamente conforme anunciado (At 9.17–18). Naquele mesmo dia, Saulo foi batizado.

Talvez você se pergunte: Se Saulo foi conquistado por Jesus, por que o tema é “uma vida perdida”? Simples: a vida perdida não foi a nova vida recebida em Cristo, mas aquela que o diabo perdeu. Cristo resgatou Saulo das garras de Satanás, obrigando o inferno a abrir suas portas para liberar aquele por quem Jesus morreu e ressuscitou, cancelando toda dívida que havia contra ele. Agora, Saulo estava livre para servir ao Senhor.

O que aprendemos com essa história?

1-Toda iniciativa da salvação é sempre de Deus, não do homem; Não foi Saulo que procurou e achou Jesus; foi Jesus quem procurou e resgatou Saulo.

2-A salvação decorre da escolha incondicional de Deus. Nada havia em Saulo que o tornasse merecedor da salvação; pelo contrário, suas obras o tornavam digno de condenação. Deus salvou Saulo porque o escolheu como instrumento para levar o Seu nome aos gentios, aos reis e aos filhos de Israel (Atos 9.15).

3-Não importa o grau do seu pecado. A morte substitutiva de Jesus na cruz é suficiente para salvar o pior pecador — título que Saulo atribuiu a si mesmo como “o principal dos pecadores” (1 Timóteo 1.15).

4-Não resista ao chamado de Deus, porque “dura coisa é recalcitrares contra os aguilhões” (At 26.14). Em outras palavras, quanto mais você resistir, maior será o sofrimento.

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Questões para edificação

1-Você já reconheceu alguma situação na sua vida em que, sem perceber, acabou colaborando para o cumprimento do propósito de Deus, mesmo que suas intenções fossem contrárias?

2-De que maneira a experiência de conversão de Saulo pode transformar sua perspectiva sobre o perdão e a misericórdia de Deus diante dos seus próprios erros e pecados?

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Pr. Ricardo Marques de Lima, pastor auxiliar na Igreja Presbiteriana de Manaus