E pediu para si a morteExemplo

O SUICÍDIO COMO FATO SOCIAL

Pode-se perceber que o suicídio é um fato social quando se atenta para as duas maiores razões para que aqueles que pretendem o suicídio deixem uma nota de despedida: “aliviar a dor dos que ficam, tentando isentá-los de culpa”, ou “aumentar a dor dos que ficam, atribuindo-lhes culpa”.

Ou seja, apesar do suicídio ser, em certa medida, um ato pessoal, possui razões e intenções sociais. Às vezes tais intenções visam mais a outras pessoas do que a própria pessoa que morre por suicídio, visam aliviar a outros do “peso” que a pessoa se considera, ou mesmo ser uma forma de ferir a outros, pela culpa.

Segundo Émile Durkheim, pode-se inclusive identificar “tipos” de suicídio a partir de sua relação com a sociedade, e a partir do grau de integração da pessoa com seu grupo social. Tais tipos seriam quatro: o egoísta, o anômico, o fatalista e o altruísta. Cada qual sendo resultante de uma forma de relação social, seja pelo vínculo do indivíduo com a sociedade, ou ainda a falta deste. Vejamos os quatro tipos...

O tipo egoísta é a morte por suicídio que decorre da ausência de presença social na vida de um indivíduo. É resultante, portanto, da incapacidade de uma pessoa de ver-se como alguém que integra uma sociedade a um nível relacional. Ou seja, se dá quando alguém não se considera parte da sociedade na qual vive e, por isso, não vê sentido em sua própria vida. Por causa disso, normalmente se entende que tal suicídio pode ser evitado por meio da intervenção terapêutica, que lhe dá o suporte afetivo do qual sente falta, criando uma relação e ajudando a pessoa a se ver como parte da sociedade.

O tipo anômico diz mais respeito à forma com que o indivíduo vê a sociedade do que efetivamente sua relação com ela. Afinal, decorre de uma sensação de perda de leis de funcionamento, ou seja, a pessoa opta pela morte quando a sociedade, a qual pertence, parece não lhe fazer mais sentido, mesmo que ainda esteja inserido nesta.

Exemplos deste tipo são os suicídios que ocorreram em 1929 com a quebra da Bolsa de Valores de Nova Iorque, ou ainda aqueles que ocorreram mais recentemente no Brasil, em virtude do confisco das poupanças no plano Collor22. Afinal, com tais situações, muitas pessoas sentiram como se as leis sociais tivessem desaparecido, de modo que, apesar de estarem inseridas na sociedade, sentiram como se a própria sociedade tivesse, de certo modo, deixado de existir.

Amanhã veremos os outros dois tipos e em qual deles Moisés pode se encaixar.